quarta-feira, 22 de julho de 2009

Neto Alves - ABRACISTA


POR CAUSA DA DISTÂNCIA INVOLUNTÁRIA DO ABRAÇO

Por Neto Alves


O que mais motivou meu retorno à capital – além de estudar –, e a consequente saída dolorosa do interior do Ceará, paixão da minha vida, foi a solidão, essa estranha companheira, que teima em abraçar-nos muitas vezes durante os dias de nossa existência sobre a terra, ela (a solidão) que temendo ficar sozinha nos procura a todo instante e se encontra não quer mais largar.

Sentia falta de um abraço, de braços que me envolvessem e mãos que me acariciassem. Minha família, com certeza, preencheria esta lacuna. O amor dos seus, embora podendo machucar, é certeza de presença, mesmo que silenciosa. E foi o que aconteceu.

Aconteceu também que os dias passaram-se e esqueci-me disso. Estranha é a memória que, seleta e discreta, apaga a gratidão que deveria ser sentida depois de uma transição como essa.

Porém, um abraço que eu não esperava me surpreendeu: um abraço diferente, o das palavras, dos textos, das emoções dos poetas, dos contos (de fadas?), o abraço do Mário, do Drummond, da Cecília, da Adélia e da Raquel, o abraço do verso e da prosa, um abraço literário. Agora já não me sentia tão só, porque até a velha irmã, a teimosa solidão, ela mesma me abraçava, não como antes, não como dor, mas como versos, como arte, como letra...

O Abraço* deu-me vida novamente, deponho! Despertou em mim sentimentos, desejos e emoções que antes dormiam, agradeço!
Mas agora estou aqui, longe do Abraço, órfão novamente. Sim, sinto-me órfão dos sonetos, dos contos e das crônicas. A (dor) (da) solidão do convívio literário me dói novamente.

* O abraço a que me refiro trata-se do Abraço Literário, grupo de discussão literária do Sesc - Fortaleza. Reuniões às terças-feiras na biblioteca infantil do Sesc, situádo à rua Clarindo de Queiroz, nº 1740 - Centro de Fortaleza - CE. Maiores informações: 0800 275 5250, falar com Lucinha.

Um comentário:

sogueira disse...

*O Abraço*

São dois braços que firmes enroscam,
Dois corações falam baixinho, sós.
Duas pontas pendentes que soltam,
Desfaz o laço desarrumando os nós.
*
Laços de amor que sejam eternos,
De amigos que sigam sem fronteiras.
De saudades nunca seja pequeno,
Quando verdadeiro sem barreiras.
*
Para que as pontas pendentes livres,
Não desenrolem sobra à ventania.
Nem se desfaça, conserve os matizes,
Colorindo espiral envolto em magia.
*
Oferto meu abraço ao teu conciso.
Abraço Literário leitura, amor sorriso

SonaiNogueira