quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Silas Falcão, in A exposição

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Saudade e certezas



Seu primo conta-lhe a novidade. Atentamente ele ouve estranhando porque nasceu crescendo em apartamento de passos medidos. Desde então a curiosidade borbulhante insulta-lhe viagem.

Interior.

A pequena cidade é construída de ruas mansas, sorrisos fáceis, simplicidades abundantes, natureza ativa, rio corrente, pássaros, emoldurando as casas niveladas. Ambiente de caráter.

O primo detalha miradamente cada centímetro do espaço feito de liberdade. Universo de aventuras.

Sua alma, ganhando movimentos inéditos, corre espaços como o vento, o sol.

Seu olhar, desviando-se de um plano a outro, se amplifica como os puros sons do sino anunciando missa.

Sua maturidade de concreto sensibiliza-se insolitamente.

Ele sente-se outro. Outro completo.

E fotografa.

Fotografa minuciosamente como quem eterniza uma relíquia volátil.


No final de semana ele convida os amigos dos apartamentos de passos medidos para a exposição fotográfica dos quintais, que os concretos do crescimento urbano aterraram.

“As horas que eu passava no quintal eram de treino para a poesia”- Manuel Bandeira.


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Um comentário:

. disse...

"Fotografa minuciosamente como quem eterniza uma relíquia volátil."...Só a literatura tem esse poder de prender - para sempre- no cós da nossa consciência, miríades de relíquias figurativas....|| A braço S